quarta-feira, julho 11, 2007

Uma (longa) noite nas Urgências


Era quase uma da manhã quando fui sobressaltada pelo aviso do meu pai que se preparava para ir para o hospital. Já de pijama, o tempo de vestir qualquer coisa e o caminho, que costuma ser curto até ao centro Hospitalar de Gaia, tornou-se lento e custoso… Tal como todo o tempo que eu e a minha irmã passamos cá fora, sem uma única notícia, sem saber absolutamente nada. Limitávamo-nos a tentar espreitar de cada vez que a porta da urgência se abria… Concordo que nos hospitais tem que estar quem precisa de tratamento, mas também não deixa de ser verdade que chega a ser desumano que a pessoa a precisar de cuidados não possa ter ninguém ao lado… As horas iam passando, o frio fazia-se sentir e as histórias (surreais) que se iam ouvindo desesperavam-me… É nestes sítios e a estas horas que nos apercebemos das vidas conturbadas das pessoas…. Desde o gajo que entrou ainda drogado, depois de ter levado uma facada (eram os amigos que estavam a contar cá fora para quem quisesse ouvir), passando por uma doida que andava de um lado para o outro, pedindo dinheiro ou cigarros, até aos rostos sem cor, apagados, tristes dos idosos que se multiplicavam à medida que o tempo passava. Movimentos apressados, pessoas que gritavam de dor e eu cá fora, encostada a uma parede sem saber nada. Só sabia que o meu pai estava lá dentro e que neste entretanto eram quase quatro da manhã. Foi nessa altura, que o meu pai conseguiu falar connosco, mas apenas para dizer o mesmo: «Não sei nada. Dizem que tenho de esperar. Por isso, vão embora porque ainda devo ficar muito tempo». Não será a espera a coisa mais desesperante do mundo? O pesadelo acabou às cinco das manhã, com o regresso a casa e a certeza que no dia seguinte seria preciso voltar… Porque apesar de aquela ser uma das mais completas urgência deste País, os médicos das especialidades só estão de serviço até uma determinada hora. Consegui fechar os olhos, um pouco mais descansada, já passava das cinco da manhã, mas ainda perturbada por tudo o que vi e ouvi naquelas horas em que tive a certeza que a pior coisa que nos pode acontecer à ir parar a um hospital. Seja ele qual for.

1 comentário:

Ana disse...

Espero que esteja tudo bem com o teu pai!

E sim, os hospitais são uma verdadeira vergonha!
Felizmente, contam-se pelos dedos de uma só mão e ainda sobra, as vezes que tive de me deslocar a um, mas aquilo que oiço quase diariamente...nem dá p'ra acreditar!


Beijinhos